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Moradores denunciam degradação de igreja histórica em Cachoeira: 'Vai desabar'

Templo foi listado pelo Iphan como um dos que têm condições mais precárias no Brasil

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 25 de maio de 2025 às 06:00

Templo está localizado na Praça Vacareza
Templo está localizado na Praça Vacareza Crédito: Reprodução

Na cidade histórica e bucólica de Cachoeira, no Recôncavo baiano, cada pedaço de rua conta uma história. Seja a dos engenhos de açúcar da época colonial, das mulheres da Irmandade da Boa Morte, Independência do Brasil na Bahia e por aí vai. Mesmo o espaço que recebeu tantos fatos históricos sofre com o ar do tempo e o descaso das autoridades. 

Nesta semana, o CORREIO mostrou que a ponte Dom Pedro II, que liga Cachoeira ao município vizinho São Félix sofre com a degradação. O equipamento tombado oferece risco a ageiros, motoristas e a quem navega no Rio Paraguaçu, devido às várias peças soltas e enferrujadas. Mas a ligação entre as duas cidades não é o único bem desamparado.

Moradores da cidade denunciam que a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, em Cachoeira, sofre com abandono e corre risco de desabar. As chuvas que atingiram diversos municípios do Recôncavo neste mês agravaram a situação do espaço. "A Igreja dos Remédios está desmoronando. A degradação do templo - que vem sendo denunciado há anos, piorou bastante após a chuva dos últimos dias. Apesar do estado lastimável da igreja não há qualquer iniciativa por parte dos órgãos oficiais para realizar intervenções emergenciais que evitem o desabamento total", denuncia um manifesto compartilhado por moradores. 

Igreja dos Remédios, em Cachoeira, está em situação precária de conservação por Reprodução

Imagens compartilhadas pelos moradores mostram que a fachada do templo tem janelas quebradas e pintura desgastada, além de buracos no telhado e mofo nas paredes. Dados do Relatório de Bens Materiais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), revelados pelo Metrópoles em fevereiro deste ano, apontam que mais de 100 igrejas apresentam nível de conservação “ruim” ou “péssimo”, conforme a avaliação dos técnicos do órgão.

Integram a lista a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, em Cachoeira, e outros 12 templos baianos, como a Igreja Matriz de Santiago (também em Cachoeira), Igreja de Santo Antônio da Mouraria (Salvador), Igreja e Convento de São Francisco (Salvador) e Igreja Matriz de Nossa Senhora de Oliveira dos Campinhos (Santo Amaro). 

A reportagem entrou em contato com o Iphan sobre o estado de conservação da Igreja dos Remédios, mas não obteve retorno até esta publicação. A prefeitura de Cachoeira também foi procurada e informou através de nota que já existe um processo em tramitação junto ao Iphan 'voltado para as obras de restauro e salvaguarda do patrimônio da Igreja dos Remédios'.

A prefeitura disse ainda que esse processo está em fase de licitação para a contratação da empresa responsável pela execução das obras. 'Reiteramos nosso compromisso com a preservação do patrimônio histórico e cultural do nosso município e seguimos acompanhando de perto todas as etapas desse procedimento', conclui nota.

História 

A história do templo religioso se confunde com a do povo negro do Recôncavo da Bahia. A Igreja dos Remédios foi utilizada entre a segunda metade do século XIX até o século XX pela Irmandade do Bom Jesus dos Martírios, composta por negros associados à nação Jeje. Eles utilizavam o espaço enquanto local de reinvenção cultural e de reconstrução de práticas, tornando a Igreja um espaço essencialmente negro e de etnogênese afrodescendente. As informações fazem parte de um ensaio acadêmico publicado pelo pesquisador José Mota, em dezembro de 2024. 

"A igreja está em estado de abandono, remetendo à questão da seleção de patrimônios a serem preservados e de um possível racismo patrimonial. Enquanto isso, como se verá, o entorno da igreja é um ambiente cuja movimentação é intensa e vivida, a partir da tradicional feira livre da cidade e de moradias familiares", pontua o pesquisador, no ensaio denominado 'Paisagem viva, Sítio Fantasma'. 

"A edificação, em estado de invisibilização, de arruinamento e de desconstrução física e imaterial, contrasta fortemente com a atual existência dinâmica da sua paisagem de entorno", completa o pesquisador. A observação é compartilhada por moradores. "Nos dias de hoje o telhado já desabou, e ainda sem nenhum cuidado do poder público. Mais um monumento histórico que vai desabar e vai ficar apenas as fotos de lembranças", diz um morador em uma publicação recente no Instagram. 

O medo é que mais uma targédia aconteça. Em fevereiro deste ano, o desabamento teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, causou a morte de uma turista de 26 anos. Depois do episódio, vistorias em templos religiosos foram intensificadas em Salvador. Em fevereiro, seis igrejas e dois imóveis residências foram interditados após análise da Defesa Civil e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Imagem do forro da Igreja de São Francisco enviada pelo frade ao Iphan por Reprodução

Foram elas: Igreja de Nossa Senhora da Ajuda; Igreja e Convento dos Perdões, Igreja de São Bento, Igreja dos Quinze Mistérios, Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem e Igreja de São Miguel.