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Bruno Wendel
Publicado em 2 de junho de 2025 às 05:00
No lugar de “soldados” espalhados em becos e lajes, olhos mecânicos. A função de “olheiro” dentro das organizações criminosas vem sendo substituída pelas lentes das câmeras, tal como as empresas convencionais vão trocando a mão-de-obra humana pela tecnologia. Só que, em relação às facções, o objetivo não é aumentar a qualidade e a produção, mas sim monitorar os os da polícia em comunidades conflagradas de Salvador e Região Metropolitana. Ou seja, o “BBB do tráfico” pode antecipar uma fuga em massa de um “bonde” ou até emboscar os agentes. >
“Desde a 48ª (Companhia Independente / Sussuarana), em agosto de 2022, policiais das minhas unidades já foram emboscados várias vezes”, declara o ex-comandante da unidade, o tenente-coronel Luciano Jorge, que atualmente é coordenador do Comando de Policiamento Regional da Capital /Atlântico. No dia 04 de fevereiro, equipes removeram uma câmera na Avenida Ulisses Guimarães, a principal de Sussuarana, próximo ao Fórum Teixeira de Freitas - o prédio não funcionou por três dias, após traficantes terem pichado “Muita Bala no Estado”.>
Antes do Comando de Policiamento Regional da Capital /Atlântico, Luciano Jorge esteve à frente da 23ª CIPM (Tancredo Neves). Em janeiro deste ano, dois policiais foram baleados durante uma ronda no bairro de Tancredo Neves. Os militares estavam numa viatura quando, de repente, foram atacados por um grupo de homens armados. “Um foi atingido no colete e outro no braço”, lembra Luciano Jorge, quando à frente da 23ª CIMP.>
Em dezembro de 2024, dois PMs também foram atingidos, quando surpreendidos por um grupo de homens armados na Rua Paraíso, localidade de “Buracão”, que fica entre Tancredo Neves e Narandiba – a situação evoluiu para um total de oito baleados, entre militares, um criminoso e cidadãos civis. “Muitas câmeras ficam escondidas nas caixas de entrada de energia que ficam nos postes. Por meio de um orifício, registram tudo e a gente não consegue enxergar”, declara Luciano Jorge. Porém, ele pondera. “Tancredo Neves, Engomadeira, Arenoso, Timbalada, Arraial do Retiro, Canal, são áreas conflagradas e todas têm câmeras. Mas não sabemos, de fato, se isso (emboscadas) tem a ver com as câmeras". >
Centrais >
No dia 23 de maio, seis câmeras foram retiradas em Campinas de Pirajá. Elas estavam espalhadas em pontos estratégicos da localidade conhecida como Osório e foram retiradas por oficiais da 9ª CIMP (Pirajá) e 47ª CIMP (Pau da Lima). No dia 16 do mesmo mês, equipamentos do tipo, que também estavam fixados em postes de iluminação pública, foram retirados por PMs no Buraco da Gia, em Brotas. >
As ações da polícia resultaram também na localização de centrais de monitoramento em algumas comunidades. No mês de fevereiro, em três dias, foram descobertos três pontos, onde traficantes do Bonde do Maluco (BDM) operavam as câmeras. A primeira ação aconteceu no Lobato, no dia 06, na Via das Torres. No dia 10, a segunda central foi desmontada na comunidade do Milho, no IAPI. Dois dias depois, policiais militares desativaram a base de controle na Polêmica.>
BBB do tráfico 1
Em algumas regiões, não há centrais. “Hoje, qualquer pessoa pode adquirir uma câmera pela internet. Tem uma empresa que você faz o pedido, recebe o aparelho em casa e, através de um aplicativo, tem todas as imagens no celular. Boa parte das nossas apreensões é por esse tipo de equipamento”, diz o coordenador do Comando de Policiamento Regional da Capital Atlântico. >
Região Metropolitana >
O monitoramento da tropa pelo tráfico não é uma condição exclusiva de Salvador. “Da mesma forma que usada para o bem, a tecnologia é também usada para o mal, através dessas organizações criminosas. Mas aqui, insistimos para que a população denuncie de forma anônima essas câmeras clandestinas”, declara o major Jorge Ramos, comandante da 53ª CIMP (Mata de São João). >
Na manhã do 17 de fevereiro, policiais militares da 53ª CIPM, durante patrulhamento no Condomínio Vista Bela, em Imbassaí, removeram uma câmera de monitoramento, camuflada em uma caixa de agem de energia, utilizada estrategicamente por grupos criminosos para observar a aproximação de policiais. >
Em outra ação, desta vez da 1ª Delegacia de Mata de São João, agentes apreenderam cinco câmeras clandestinas, além de drogas e armas, na localidade de Serra Verde. Um traficante morreu no confronto. O tráfico na região é disputado pelo BDM e pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). >
Barricadas>
A tecnologia não é a única forma usada pelos criminosos para emboscar a polícia. As barricadas também oferecem risco aos agentes, pois são obrigados a desembarcar das viaturas. No dia 19 deste mês, policiais da 53ª CIMP retiram um prisma de concreto que impedia a circulação de veículos na estrada no distrito de Amado Bahia. A retirada foi realizada por um trator.>
Na mesma ação, PMs removeram inúmeras pichações que faziam menção a uma das organizações criminosas no litoral do município. “Não haveremos de permitir que esses símbolos se propaguem na nossa área de responsabilidade territorial, causando, sobretudo, medo na nossa comunidade matense e nos seus visitantes”, destaca Jorge Ramos. >
A reportagem pediu à Polícia Militar a quantidade de câmeras clandestinas apreendidas, mas até o momento não houve resposta. >