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Pombo Correio
Publicado em 30 de maio de 2025 às 05:00
A Anistia Internacional, organização global de defesa dos direitos humanos, desembarca na próxima segunda-feira (2) em Salvador para uma reunião com o procurador-geral de Justiça e representantes do Ministério Público sobre a onda de violência e homicídios no estado. Pelo décimo ano consecutivo, a Bahia lidera o ranking nacional, com quase 7 mil mortes em 2023, mais que o dobro do registrado em São Paulo. O encontro acontece após sucessivas tentativas frustradas de diálogo com o governo baiano sobre a escalada da violência e a letalidade policial, que se arrasta desde a gestão de Rui Costa (PT). Casos emblemáticos como a chacina do Cabula e da Gamboa permanecem sem respostas. Segundo a Anistia, o governo não avançou em políticas públicas que fortaleçam o controle da segurança e garantam o respeito aos direitos humanos. >
Insensível>
Em 2023, no primeiro ano do governo Jerônimo Rodrigues (PT), a Anistia Internacional chegou a se reunir com representantes do estado e ouviu promessas de ações concretas para enfrentar a violência. Dois anos depois, nada saiu do papel. A nova visita da Anistia a Salvador, agora articulada via Ministério Público, é uma cobrança pública de compromissos ignorados. O governador prometeu, assinou, discursou, mas logo depois virou as costas para o problema, que tem tido efeito devastador especialmente para a juventude negra. Até aqui, Jerônimo parece não se sensibilizar.>
Fujão>
Além de descumprir os acordos, Jerônimo também determinou uma espécie de lei do silêncio e vetou o o aos dados da segurança pública no estado. A Anistia Internacional revelou que, desde o fim de 2024, tenta obter informações básicas para avaliar os avanços prometidos, mas as ligações não são atendidas. A entidade também formalizou três pedidos de reunião com o governador: dois em abril (nos dias 3 e 28) e o mais recente em 23 de maio. Todos foram solenemente ignorados. Jerônimo consolida, para o mundo, a fama de fujão toda vez que é confrontado sobre a segurança pública. De quebra, a Anistia aponta que os dados de mortes por intervenção policial são incoerentes entre os sistemas federal, estadual e do MP, o que torna praticamente impossível saber o tamanho real do problema. Segurança pública, por aqui, virou um jogo de empurra e de esconde.>
Sem amor nem carinho>
A agem do governador Jerônimo Rodrigues pelo sudoeste da Bahia, no último final de semana, foi um verdadeiro tiro pela culatra. Na região, ele foi alvo de críticas de seus próprios aliados, que alegam abandono, ingratidão e desconfiança com o cacique petista. Em Itapetinga, em sua primeira parada, o governador participou de agendas ao lado do prefeito Eduardo Hagge (MDB), adversário do grupo governista em 2024 e que, agora, Jerônimo quer levar para sua base. Na cidade, o grupo de Cida Moura (PSD) - candidata apoiada pelo petista e derrotada na eleição do ano ado - ficou revoltado com a postura. Reclama que não é abraçado pelo governo, ficando a “pão e água”, e que o governador nunca procurou Cida após o pleito, nem mesmo com uma ligação. Cida inclusive reclamou que aceitou levantar a bandeira do governo, mesmo com a popularidade baixa de Jerônimo na região.>
Governador dos adesistas>
Em Nova Canaã, na mesma região, Jerônimo promoveu um evento político com o prefeito Dói Rocha (Avante) e fez uma série de críticas à oposição da cidade, liderada por Magna Chaves (PSD), que foi a candidata oficial do grupo do governador em 2024 e acabou derrotada. Ela é esposa do ex-prefeito de Iguaí, Rony Moitinho (PSD), aliado de primeira hora de Jerônimo. Um dos principais articuladores do petista na região em 2022, Rony não digeriu bem as críticas e apontou, segundo fontes da região, ingratidão do governador com ele e seu grupo. Com isso, a agem pelo sudoeste consolidou uma crítica que já vem sendo feita pela própria base petista de que Jerônimo é o “governador dos adesistas” e abandona aqueles que sempre estiveram com ele. “A queixa geral é que só tem obra para prefeito adesista”, reclamou uma liderança da base.>
Frustração>
Prefeitos do interior da Bahia ampliaram os sinais públicos de frustração com o governo Lula 3 especialmente depois do anúncio das novas unidades do Minha Casa Minha Vida para o estado. Em tempos áureos dos mandatos anteriores, as cidades recebiam 1.200, até 2.000 casas populares. Agora, tem município recebendo apenas 20 unidades. Um dos gestores relata que já havia cadastrado mais de 1.200 famílias com base na expectativa de que a volta de Lula ao poder traria de volta também a bonança. A decepção aumentou quando, mesmo após insistentes perguntas, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, esquivou-se de responder sobre os números exatos. Quando os dados finalmente apareceram, veio o baque: prometeram fartura, entregaram migalhas.>
Fritura pública>
Lideranças e parlamentares do PSD da Bahia começaram a alimentar “um profundo incômodo” com o processo de fritura pública que o senador Angelo Coronel (PSD) tem sofrido de lideranças petistas. O ápice da chateação ocorreu nesta semana após uma entrevista do senador Jaques Wagner (PT) e do ministro Rui Costa a uma rádio local, em que confirmaram o interesse nas duas vagas para a Casa Alta do Congresso na chapa de Jerônimo em 2026. O movimento, naturalmente, tira Coronel do jogo. Até pessedistas mais simpáticos ao PT dizem que, mesmo que saia da chapa, Coronel não deve ar pela “humilhação pública que vem sendo vítima”. Segundo as fontes do partido, há um clima de solidariedade ao correligionário. Reclamam, ainda, que o PT está fritando Coronel com um discurso de “diálogo e unidade”, como o pregado por Rui e Wagner. “Eles batem com amor e carinho”, ironizou um parlamentar.>
Tic Tac>
Estes mesmos setores mais sanguinários do PSD já item que, após a fritura pública de Coronel por Jaques Wagner e Rui Costa, a aliança política com o PT na Bahia está com os dias contados. “A questão não é se, é quando”, disse um interlocutor.>
Mensagem cifrada>
O desconforto com a situação envolvendo Coronel foi tamanho que alguns sugerem nos bastidores que estão aptos a iniciar uma operação para encolher os polegares. Entendedores entenderão.>
Enquete da discórdia>
Um blogueiro simpático ao grupo do PT muito famoso em uma grande cidade do interior baiano resolveu fazer duas enquetes sobre 2026, uma sobre a disputa estadual e outra sobre o embate nacional. O resultado deixou o profissional e a todos ligados a ele boquiabertos: no estado, a enquete apontou cenário muito desfavorável para Jerônimo e, no nacional, a disputa entre o presidente Lula e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi muito acirrada. O blogueiro tratou de ligar para deputados petistas para avisar do resultado.>
Revolta e descrença>
Integrantes da base do governo aram maus bocados durante a audiência pública que discutiu o financiamento do Planserv, na última terça, na Assembleia Legislativa, ao tentarem blindar a gestão estadual do péssimo funcionamento do serviço. Nos últimos anos, o governo do PT cortou pela metade a contribuição patronal do estado, que caiu de 5% para 2,5%. O líder do governo, Rosemberg Pinto (PT), chegou a itir que virou rotina o estado entrar com suplementação para evitar o colapso do plano, reconhecendo, com todas as letras, que o recuo da contribuição afetou a sustentabilidade do sistema. Por isso mesmo, teve a fala interrompida por diversas vezes em meio a vaias e gritos de protesto. Para completar o vexame, nem o governo nem o Planserv enviaram representante oficial para dar explicações.>