Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 12 de junho de 2024 às 09:14
Remanescentes de Mata Atlântica urbanos com mais de 35% de proporção de floresta no seu entorno abrigam uma riqueza de espécies aranhas 45% maior se comparadas com remanescentes com proporção de floresta inferior a 3%. A pesquisa liderada por Tércio da Silva Melo e Jacques Hubert Charles Delabie da Universidade Federal da Bahia, publicada na revista Neotropical Entomology, também demonstrou que em fragmentos florestais com maior quantidade de borda há cerca de 42% menos espécies de formigas. >
Realizado nos remanescentes de Mata Atlântica de Salvador e região metropolitana, esse estudo avaliou o papel da conservação dos remanescentes florestais urbanos na manutenção da diversidade de aranhas e formigas. Seus resultados ressaltam a importância da conservação da floresta em ambientes urbanos para a manutenção da diversidade de organismos chave na manutenção dos ecossistemas, bem como prestadores de serviços ecossistêmicos importantes como a ciclagem de nutrientes, dispersão de sementes e o controle de pragas.>
A diversidade de formigas foi negativamente afetada pelas condições adversas na faixa de transição entre os remanescentes florestais e as áreas urbanizadas no entorno. Nessa faixa de transição as condições ambientais como temperatura, umidade, exposição ao sol e a inimigos naturais, são muito diferentes das áreas do interior da floresta e podem ser restritivas à sobrevivência de muitas espécies de formigas.>
Essa redução na diversidade de formigas compromete o funcionamento do ecossistema. As formigas são consideradas engenheiras ambientais, participando da decomposição da matéria orgânica, melhorando a estrutura do solo, facilitando a ciclagem de nutrientes, além de controlar populações de pragas e dispersar as sementes, processos fundamentais para a reprodução e o desenvolvimento das plantas. A longo prazo, isso põe em risco a viabilidade dos remanescentes de Mata Atlântica.>
Já a diversidade de aranhas presentes nos remanescentes de Mata Atlântica estudados foi determinada pela proporção de florestas e pela proximidade com outros remanescentes. O aumento de 130m na distância entre os remanescentes de mata implica em uma redução de 27% da diversidade de aranhas. A proximidade entre os remanescentes favorece a movimentação das aranhas entre os fragmentos de Mata Atlântica, aumentando a área efetiva de habitat disponível para sustentar as populações locais de múltiplas espécies. Ainda que as aranhas sejam amplamente conhecidas pelas espécies de importância médica (armadeira, marrom e viúva-negra), estão presentes pelo menos 164 espécies na Região Metropolitana de Salvador. Dentre estas, as aranhas errantes, caçadoras e tecedeiras foram as mais afetadas negativamente. Estes aracnídeos são predadores cruciais na manutenção das cadeias alimentares e ajudam a controlar as populações de insetos vetores de doenças, incluindo baratas, moscas e os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, transmissores da dengue, chikungunya e Zika. >
Por esses motivos a manutenção dos remanescentes florestais urbanos é fundamental não só para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, mas também para o bem estar dos seres humanos.>
*Eduardo Freitas Moreira é Biólogo, Mestre em Ecologia e Biomonitoramento e Doutor em Ecologia pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente atua como pesquisador no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, associado ao Biota Síntese com apoio da FAPESP.>
com a colaboração de Pedro A. Duarte. Formado em Jornalismo pela FAAP, está cursando a pós-graduação em Jornalismo Científico pelo Labjor Unicamp. Faz estágio no Biota Síntese por meio da bolsa Mídia Ciência de Jornalismo Científico concedida pela FAPESP.>