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A disputa pelos espigões

A urbanização que vem surgindo na região de Jaguaribe é uma boa mostra, ficando a orla destinada ao lazer público, um importante ativo da cidade

Publicado em 2 de junho de 2025 às 05:00

A cidade de São Paulo, a maior do país, começa a disputar com Balneário Camboriú (Santa Catarina) e Goiânia (Goiás), o título de prédio mais alto do país. Balneário acaba de dobrar a aposta: vai construir o residencial mais alto do mundo! Uma disputa mais besta. Também aqui em Salvador, os prédios têm ganhado alturas cada vez maiores. O antigo Horto Florestal é talvez o exemplo mais pronto e acabado. Devia ar a chamar-se horto predial.

Com sua sabedoria, nosso grande poeta e cronista Carlos Drumont de Andrade recomendava que as pessoas deviam, como ele, morar no máximo até o sétimo andar. É que a essa altura ainda dá para identificar as pessoas na rua... Uma escala humana, como se vê.

O argumento de que as pessoas querem comprar vista resulta enganoso, porque a vista de hoje será, amanhã, substituída pela área de serviço do espigão da frente. Não há garantia de sua perenidade, restando apenas a varanda gourmet, aliás incentivada pela legislação atual. Por isto o interesse, agora, pela construção de espigões na borda marítima, independente de fazerem sombra nas praias, o que prejudica os moradores e o turismo nas cidades litorâneas. Cabe ao urbanismo mantê-los a uma distância compatível com a preservação do lazer público e da imagem ambiental urbana.

É preciso retomar o cuidado com o desenho urbano, que foi tema do Epucs e do Plandurb. Há mecanismos e instrumentos capazes de permitir que edifícios possam se localizar à beira-mar, sem esconder o sol. A urbanização que vem surgindo na região de Jaguaribe é uma boa mostra, ficando a orla destinada ao lazer público, um importante ativo da cidade. Neste sentido a nova orla de Pituaçu/Jaguaribe pode tornar-se uma boa referência.

Ao contrário do que é comumente imaginado, não há correlação direta entre verticalização e densificação. Prédios mais altos, com apenas um ou dois apartamentos por andar, resultam em baixas densidades, ao contrário de áreas faveladas onde edificações térreas, de pequenas dimensões, criam uma densidade bem mais elevada.

Não é no Corredor da Vitória, nem no Horto Florestal que estão as maiores densidades em Salvador. A maior densidade está na região dos antigos Alagados, bairros construídos sobre palafitas, em área posteriormente aterrada – pasme-se – com o lixo da cidade. Sim, os Alagados foram, provavelmente, o nosso primeiro lixão oficial.

Para as cidades o que interessa é o pavimento térreo. Do ponto de vista urbano, a preocupação deve ser com o piso ao nível da rua, que deve ter, em muitos casos, obrigatoriedade de fachada ativa e sem recuo frontal, com calçadas planas e largas.

Aqui em Salvador, na Barra e seu entorno, residências e imóveis comerciais, geralmente térreos ou sobrados, vêm sendo substituídos por edifícios com dezenas de unidades habitacionais, sem a adoção de fachada ativa, o que tem matado o comércio local, na contramão do que é a tendência mundial de criar bairros compactos, com uso misto, onde os moradores, além de residir, possam consumir, trabalhar e ter espaços de lazer. Vide Paris e a cidade de quinze minutos.

Como resultado, as pessoas que am a morar nesses edifícios precisam fazer as suas compras de conveniência, aquelas mais frequentes, em locais cada vez mais distantes, precisando usar carro ou transporte coletivo, para buscá-las onde existirem. Está desaparecendo – ao invés de crescer – o chamado comércio de vizinhança. Os mercadinhos de bairro estão sendo substituídos pelos atacadões, protagonizando a invasão – indevida – dos mastodontes, que já chegaram até à zona central.

Com a implantação de uso comercial no térreo, as coberturas – agora comercialmente chamadas de rooftop – podem concentrar os serviços de lazer condominial. É também uma forma de preservar a vista. Já a fachada ativa é algo indispensável para dar vida às ruas, atender aos moradores e reduzir a insegurança.

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.