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Sebastião Salgado escancarou ao mundo a vergonha da desigualdade

Fotógrafo mineiro morreu aos 81 anos

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 24 de maio de 2025 às 05:00

O fotógrafo com a esposa Lélia, no filme O Sal da Terra
O fotógrafo com a esposa Lélia, no filme O Sal da Terra Crédito: divulgação

A obra de Sebastião Salgado era marcada pelo registro de pessoas vivendo em condições sub-humanas. No entanto, isso era feito com o mais absoluto respeito, como ressalta o fotógrafo baiano Christian Cravo: “Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente e sua obra, marcada pela empatia, dignidade e respeito à Terra , influenciou profundamente minha trajetória. Salgado me ensinou que fotografar é um ato de escuta e humanidade. Seu legado seguirá vivo em todos que acreditam no poder transformador da imagem”.

O fotógrafo mineiro morreu na sexta-feira (23), aos 81 anos, em razão de um distúrbio sanguíneo causado por malária, contraída na Indonésia, e que não conseguiu tratar apropriadamente. Nas imagens que produziu, Salgado denunciou as mazelas da sociedade em mais de 40 países e chamou a atenção para a importância da justiça social e da preservação do meio ambiente.

Nascido em Aimorés, Salgado formou-se em Economia antes de migrar para a fotografia. Mestre em economia pela Universidade de São Paulo (1968) e doutor pela Universidade de Paris (1971), ele trabalhava na Organização Internacional do Café, em Londres, quando iniciou o desejo de fotografar.

TRabalhadores
Trabalhadores do petróleo no Kuwait Crédito: Sebastião Salgado

Em 1974, fez seu primeiro trabalho como fotógrafo freelancer para a agência Sygma e depois foi para outra agência, a Gamma. No final de 1979, Salgado ou a integrar a Magnum, cooperativa que revolucionou a fotografia documental no século XX.

Na década de 1980, o fotógrafo já havia se estabelecido o suficiente para financiar projetos pessoais. No livro Outras Américas, de 1986, ele registrou povos indígenas de toda a América Latina. Já com a série Trabalhadores, de 1997, documentou o trabalho manual e penoso de indivíduos ao redor do mundo, de minas de enxofre na Indonésia à pesca de atum na Sicília.

Durante a produção da série, Salgado realizou um dos trabalhos pelo qual é mais lembrado: o registro de garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, que revela as condições desumanas em que a extração do ouro ocorria. Uma das imagens da série, a obra Mina de Ouro de Serra Pelada, Estado do Pará, Brasil, foi eleita pelo jornal New York Times como uma das 25 imagens que definem a modernidade.

O fotógrafo também se dedicou a registrar a vida de migrantes, desabrigados e refugiados nos livros Exôdos e Retratos de Crianças do Êxodo. Para o projeto, ele viajou durante seis anos por mais de 40 países. “Este livro [Êxodos] conta a história da humanidade em trânsito. É uma história perturbadora, pois poucas pessoas abandonam a terra natal por vontade própria”, escreveu ele na introdução da obra.

Em 1994, Salgado fundou a agência Amazonas Images, dedicada ao seu trabalho. A maior floresta brasileira também foi tema de seus trabalhos. O fotógrafo ou seis anos viajando pela região e documentando seus povos, rios, montanhas e animais.

Salgado morava em Paris com a mulher, Lélia Wanick Salgado, e deixa dois filhos, Juliano, que nasceu em 1974, e Rodrigo, de 1979. Juliano é cineasta e lançou em 2015, ao lado do diretor Wim Wenders, o documentário O Sal da Terra, que conta a trajetória de seu pai. O longa foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário e recebeu o prêmio César, principal premiação do cinema francês.

No ano ado, o fotógrafo mineiro já havia anunciado sua aposentadoria do trabalho de campo em entrevista ao jornal britânico The Guardian. À época, ele destacou motivos de saúde que o levaram à decisão e afirmou que seguiria com projetos em exposições.

Na entrevista, ele refletiu sobre a morte. “Eu sei que não viverei muito mais. Mas eu não quero viver muito mais. Eu vivi tanto e vi tantas coisas”.

França

Sebastião Salgado foi homenageado no Centro Cultural Les Franciscaines, de Deauville, França, dois meses antes de sua morte.

A retrospectiva, feita em março, resgatou os mais de 40 anos de carreira de Sebastião nas mais de 160 imagens. A exposição foi realizada em parceria com a Maison Européenne de la Photographie.

Homens nas minas de carvão da Índia
Homens nas minas de carvão da Índia Crédito: Sebastião Salgado

O artista se emocionou durante a exposição: “O dia mais feliz da minha vida foi quando completei 80 anos. Simplesmente porque eu estava aqui, eu não estava morto”.

Amigos

“Quantos amigos perdi, quando estava em Goma [na República Democrática do Congo], durante os quatro anos em Goma. Nós éramos todos fotógrafos. Quatro fotógrafos foram assassinados, e eu estou aqui. Então, para mim, estar vivo com 80 anos é um privilégio enorme”, completou.

A exposição contou com seus trabalhos realizados na África entre 1984 e 1985, sobre os danos causados pela seca e pela fome no continente. Além deste, foram relembradas coleções de fotografias sobre imigração e a série Outras Américas, cujo foco é a América Latina.

Ele também relatou um pouco de sua experiência sobre as fotografias do proletariado e da classe trabalhadora. “Fotografando trabalhadores, eu pude ver que uma outra maior revolução estava acontecendo [...] Fui atrás dessa reorganização da família humana que estava acontecendo no mundo”. “Quando você olha minhas fotografias de trás para frente, você tem a impressão de que eu fui um cara malandro. Coisíssima nenhuma. Eu simplesmente me situei no momento histórico em que eu vivi”, finalizou.

*Com Agências

Famosos lamentam a morte do fotógrafo

Personalidades e políticos se manifestaram nas redes sociais para lamentar a morte de Sebastião Salgado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou em nota oficial e disse que “sua obra continuará sendo um clamor pela solidariedade”. “Me sinto profundamente triste com o falecimento de Sebastião Salgado. Seu inconformismo com o fato de o mundo ser tão desigual e seu talento obstinado em retratar a realidade dos oprimidos serviu, sempre, como um alerta para a consciência de toda a humanidade. Sua obra continuará sendo um clamor pela solidariedade. E o lembrete de que somos todos iguais em nossa diversidade”, acrescentou o presidente.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também prestou homenagem: “Com imensa tristeza, recebo a notícia da partida de Sebastião Salgado. Sua lente capturou a alma do mundo, com olhar humano, poético e profundamente transformador. Meus sentimentos à família, aos amigos e a todos que o iravam”.

O autor de novelas Walcyr Carrasco enfatizou que “Salgado não foi apenas um fotógrafo, ele foi um narrador da humanidade”. “Nos mostrou a beleza, a dor, a resistência e a dignidade dos povos ao redor do planeta. Obrigado por enxergar o mundo por nós, Sebastião”.

Já o ator Bruno Gagliasso destacou que o fotógrafo era um “grande plantador de árvores”, fazendo referência ao fato de que Salgado assumiu uma empresa no Brasil na qual replantou mais de 2,5 milhões de árvores, recriando uma floresta na qual estão presentes 150 espécies.

O jornalista Jean Wyllys ressaltou o “controle estético dos contrastes entre preto e branco e luz e sombra”. “Só não superou, para mim, o de seu mestre Cartier-Bresson nem o de Tina Modotti”. Mas Wyllys fez uma ressalva: “Em algumas de suas fotografias, a estetização da miséria e da desgraça humanas me incomodavam muito (um dilema do fotojornalismo). Mas, por isso mesmo, reconheço, nelas, a grande arte”.

A atriz Beth Goulart também destacou o engajamento de Salgado em relação ao meio ambiente e acrescentou: “Sua contribuição para a fotografia documental e sua paixão pela humanidade serão lembradas por gerações. Um grande artista e defensor da humanidade, nunca será esquecido, ele vive em sua obra, ele nos ensina a transcendência através de seu legado de amor”.