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Carolina Cerqueira
Publicado em 4 de junho de 2025 às 15:23
As colegas de trabalho Lorena Paim e Luciele Trindade gostaram tanto do Fórum ESG Bahia de 2024 que quiseram repetir a dose este ano. Lorena, de 37 anos, é supervisora de marketing e Luciele, de 24 anos, é designer. Elas trabalham em uma clínica de saúde e estiveram atentas às atividades do evento em busca de ideias para aplicar à empresa. >
“É importante que o ESG esteja nos colaboradores e esteja na cultura da empresa porque estamos falando de três letras que estão transformando a sociedade”, diz Lorena. >
A quarta edição do Fórum, que aconteceu no Porto Salvador nesta quarta-feira (4), reuniu líderes, empresários, gestores e agentes da sociedade civil, contando com mais de 1,1 mil participantes. Na programação da manhã, palestras e painéis lembraram os caminhos da sigla nas últimas décadas e apontaram oportunidades para o presente e o futuro. >
O advogado, escritor e especialista em ESG Augusto Cruz foi o primeiro palestrante do dia, responsável pelo tema “A jornada da sustentabilidade: o caminho até aqui e as perspectivas do Brasil para o futuro”. A fala começou com o destaque: “Não é o fim do ESG, as empresas não estão abandonando essa pauta”, defendeu o especialista. >
Para Augusto, as discussões sobre sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança, que representam as letras E, S e G, ganham cada vez mais força e essa potência consolidada é resultado de uma base formada a partir de um conjunto de crises mundiais, principalmente, nas décadas de 1970 e 1980. >
“Foram as crises, como a que aconteceu aqui mesmo em Pojuca, que mobilizaram os atores desse cenário”, ressaltou Augusto, em referência à explosão de 1983, no município baiano, de um trem que transportava gasolina e diesel da antiga refinaria Landulpho Alves, em São Francisco do Conde. >
A primeira grande mobilização, segundo o especialista, foi a Conferência de Estocolmo, em 1972. “As conferências da ONU debatiam paz mundial e combate à pobreza e essa foi a primeira vez que trouxe o meio ambiente para o debate”, disse. >
‘ESG está no bolso’ >
Foi ligado, então, o alerta para que as empresas refletissem sobre o que faziam para mitigar os impactos ambientais que provocavam. “Junto com os grandes poderes, as grandes empresas têm grandes responsabilidades”, lembrou Augusto Cruz ao abordar o termo “sustentabilidade corporativa”. >
“ESG não é só diversidade e inclusão e também não é sobre abraçar árvore. Abraçar árvore é massa, mas ESG não está no coração, está no bolso”, defendeu o palestrante. Para ele, a área de transição energética, por exemplo, pode ser um grande potencial financeiro para o Brasil. >
“Não podemos abrir mão da variedade energética que o país tem. Temos que aproveitar isso e sair na frente no cenário mundial como grande provedor de energia. Temos parques eólicos e parques solares enormes”, alertou Augusto. >
A segunda palestrante do dia, Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do Itaú Unibanco, reforçou a fala de Augusto. Na palestra “Do ESG à estratégia climática: o papel das empresas rumo à COP30”, ela defendeu que as ações dos clientes refletem a saúde do banco. >
“Queremos a sustentabilidade desses clientes, então queremos impactar o comportamento deles. Por isso, incentivamos ações voltadas à emissão de carbono zero, por exemplo”, disse Luciana que apontou a COP30, que acontece em novembro deste ano em Belém, como uma boa oportunidade para que grandes empresas iniciem ou intensifiquem ações voltadas ao ESG. >
COP30 como oportunidade >
Luciana defendeu que, com o evento, há o que ser aprendido, o que ser mostrado e o que ser captado. Além de um lembrete de que o país tem que fazer o dever de casa — considerando que menos de mil empresas brasileiras publicam relatório de emissão de carbono —, ela exaltou o que já foi conquistado. >
“O Brasil vai estar na vitrine e temos muito o que falar para o mundo. Estamos à frente de outros países em questões como práticas sustentáveis no agronegócio e outras questões climáticas. Sem contar que temos uma parte regulatória forte, como o próprio código florestal”, afirmou. >
A COP30, segundo a diretora, também pode ser uma oportunidade para o Brasil de atrair investimentos estrangeiros. Ela afirmou que a conferência pode mobilizar mais de um trilhão de dólares para transição energética e defende que o Brasil pode ser o destino de boa parte desses recursos, justamente, pelo potencial que tem. “O Brasil já tem uma das matrizes mais limpas do mundo”, colocou. >
O financiamento climático e a transição energética são dois dos três temas que Luciana apontou como carros-chefes da COP30. O terceiro é a agricultura regenerativa, sobre a qual ela também é otimista. “No Brasil, o agronegócio é um dos setores que mais pode contribuir para a descarbonização e recuperação de áreas degradadas. O setor já vem se renovando há bastante tempo. Óbvio que temos o desmatamento, mas temos também políticas para combater essa prática”, completou. >
O primeiro do evento partiu do lembrete de que o modelo de economia linear está ficando para trás. A aplicação da economia circular foi a resposta de da Braskem, da Startup Solos, da Universidade Senai Cimatec e do artista Bel Borba para a pergunta da mediadora Mariana Paiva: “Como diminuir o impacto da nossa atuação no planeta?”. >
Bel Borba se colocou como um “reutilizador” há mais de 40 anos e “um ambientalista de berço”. Ele falou sobre o projeto de neutralização de emissão de carbono em seu ateliê e afirmou estar atento às questões ambientais. Também exaltou a iniciativa da Startup Solos de reciclagem durante os carnavais de Salvador, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. >
“Enquanto os foliões estão curtindo, a gente assume a missão de proporcionar uma estrutura para promover a sustentabilidade da festa. O lixo pode ser um problema ou uma solução, só vai depender do que você faz com ele. Na Solos, costumamos dizer que não reciclar é, literalmente, jogar dinheiro no lixo”, disse Saville Alves, fundadora e CEO da Startup Solos. >
A gerente de relações institucionais da Braskem na Bahia, Magnólia Borges, destacou que as pesquisas apontam forte interesse dos consumidores de consumir produtos sustentáveis. “Nosso papel é tornar isso uma realidade. Nós já estamos atentos ao destino correto do nosso plástico, já temos produtos circulares e embalagens circulares e temos projetos em comunidades próximas às áreas de nossas operações”, disse. >
O papel das comunidades foi destaque na fala do professor e pesquisador da Universidade Senai Cimatec Luiggi Cavalcanti, que alertou para a importância de um olhar atento às necessidades e potencialidades das realidades locais. “Um dos nossos alunos trouxe o caso da avó que usava casca de caranguejo como fertilizante. Ele propôs a pesquisa e, claro, comprovou que era eficaz”, contou. >
O segundo do evento tratou sobre a recuperação de áreas degradadas como um dos caminhos para a sustentabilidade, com mediação do jornalista Donaldson Gomes. O secretário de sustentabilidade, resiliência e proteção animal de Salvador, Ivan Euler, lembrou o trabalho da Prefeitura de recuperação de toda a orla da cidade, que vem sendo mobilizado desde 2010. >
Segundo ele, o projeto nasce a partir do termo “praia circular”, com o objetivo de levar a zero o nível de produção de resíduos. “Teremos coleta sistemática, proibição de canudos e copos de plástico, composteiras nos quiosques e desenvolvimento da cadeia produtiva nas localidades”, contou o secretário. >
Já a gerente comercial da Moura Dubeux na Bahia, Tarcila Luz, destacou o papel da construção civil na transformação de áreas degradadas. Ela citou a recuperação das áreas dos antigos Salvador Praia Hotel e Othon. “As construções mudam paisagens e mudam as realidades locais. Temos muitos prédios privados e públicos com vacância e isso representa uma oportunidade para o setor”, colocou. >
A gerente de meio ambiente e certificações da Bracell Bahia, Meryellen Baldim, lembrou que a recuperação de áreas verdes também é importante para o setor de produção florestal. “Para produzir árvores, precisamos de um meio ambiente equilibrado, da preservação dos recursos naturais. Queremos a perenidade das florestas para produzir na mesma área, sem precisar expandir”, defendeu. >
A head de comunicação corporativa da Acelen e Acelen Renováveis, Claudia Barros, exaltou o projeto de incentivo ao plantio de macaúba, da Acelen Renováveis, para afirmar que o setor de geração de energia também está engajado com a pauta ESG. “Além de engajar os nossos clientes, queremos mostrar os caminhos a serem seguidos”, disse ela, acrescentando o potencial da macaúba de recuperar pastagens degradadas através do estoque de carbono e de atuar na produção de energia renovável.>
O IV ESG Fórum BAHIA é um projeto realizado pelo Correio, com patrocínio da Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, PetroReconcavo, Plano Brasil Saúde, Salvador Bahia Airport e Unipar, com apoio institucional do Alô Alô Bahia e da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio da Claro, Salvador Shopping e Sebrae, e parceria do Hiperideal, TD Produções, Uranus2 e Zum Brazil Eventos. >