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Donaldson Gomes
Publicado em 1 de junho de 2025 às 10:00
A advogada Carolina Junqueira trabalha diretamente com a letra G da sigla ESG, justamente o pé menos falado no tripé da sustentabilidade: a governança. Para ela, que é diretora de Compliance e Riscos da Rede Globo, a criação de uma estrutura forte de governança é fundamental para que as empresas enfrentem os desafios do mundo moderno. Carolina será uma das palestrantes da quarta edição do ESG Fórum, nos dias 3 e 4 de junho. >
Quem é>
Carolina Junqueira é advogada formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atua há mais de 15 anos nas áreas de Compliance, Riscos e Governança Corporativa. Trabalhou por mais de uma década na Ambev, onde foi uma das responsáveis pelo programa global de compliance. O projeto se tornou um case de estudo da Harvard Business School. Na Globo desde 2020, lidera a área de Compliance e Riscos, além das frentes de Auditoria Interna e Controles Internos. É ainda membro do Comitê de Auditoria do Grupo Globo, contribuindo para o fortalecimento da governança corporativa e das práticas sustentáveis da companhia.>
Como foi o seu ingressou no universo do compliance e gestão de riscos?>
Eu comecei há mais ou menos 15 anos. Nesta época eu trabalhava na Ambev. Eu sou advogada por formação e naquele momento as áreas de compliance estavam começando ainda no Brasil e eram ligadas às áreas jurídicas. Eu comecei a fazer como um desdobramento de uma área jurídica dentro de uma empresa. >
O ambiente corporativo sempre foi muito masculino. Isso está mudando, mas talvez não na proporção e velocidade necessárias. Como é atuar neste ambiente hoje?>
Eu estou no mundo corporativo desde 2008 e eu vejo muitas transformações. A gente vem acompanhando essas transformações, vemos uma vontade maior de falar sobre esses temas e tem tido muita abertura para o debate e ganhar mais espaço. Acho que há uma evolução. >
Em que frentes ainda é preciso evoluir?>
Tem muito espaço. A presença ainda é menor, especialmente nos espaços de liderança. Ter mais mulheres liderando vai fazer com que novas mudanças acabem acontecendo organicamente. E é importante pensar também que não estão necessariamente associadas à presença feminina. A gente vê, por exemplo, nas áreas jurídicas, de compliance e de e, é bastante comum ver mulheres, mas nos espaços de negócios, ou tecnologia, ainda temos segmentos que ainda são muito mais masculinos. Ainda tem fronteiras para serem ultraadas. >
Estamos habituados a falar em ESG pensando mais nas frentes da responsabilidade ambiental e social. Quais são os desafios na governança?>
Eu acho que este é um momento muito importante para falarmos do G, da governança. Temos ado por muitas transformações geopolíticas no Brasil e no mundo, mudanças tecnológicas e institucionais, então é um momento de instabilidade. Há muita insegurança em relação ao que é a inteligência artificial e ao que ela vai trazer para o mercado de trabalho e a sociedade, e como as regulações vão tratar disso. Eu acho que é o momento em que a governança forte dá segurança para as instituições navegarem nestes ambientes. Uma governança bem estabelecida fará instituições terem mais ferramentas para debater e enfrentar os novos desafios – alguns a gente ainda nem sabe quais serão. As estruturas sólidas, a governança de maneira ampla, é o que vai trazer essa solidez para que as instituições consigam lidar com os seus diversos desafios nos mais variados campos possíveis. É um momento ótimo para debater governança. >
O que você espera da inteligência artificial?>
Eu vou começar usando a minha inexperiência para dizer o que eu acho. Não sou uma especialista, mas acompanho como uma parte fundamental da vida e do trabalho. Acredito que quando uma mudança muito grande acontece, um assunto muito novo chega, é comum que muitas pessoas se apropriem deste assunto e falem muito sobre isso. Eu acredito que é o momento de nos aprofundarmos, ouvir os especialistas e entender a fundo o que significa, quais os seus efeitos e impactos, para não fazermos previsões superficiais. >
O compliance ainda é um assunto muito novo no Brasil, que ganhou notoriedade nos noticiários na Lava Jato. Como as empresas encaram estes processos?>
Você tem toda a razão, é um assunto recente. Eu me formei em 2007 e compliance não era uma disciplina, eu nunca ouvi falar sobre este assunto na faculdade. A gente acabou aprendendo sobre isso depois. >
Aprendeu fazendo.>
Aprendemos fazendo, exatamente. Independente dos desdobramentos da Lava Jato, a Lei Anticorrupção trouxe uma obrigação para as empresas de criar um programa, um formato para o cumprimento daquelas obrigações. Então, ele é um marco por trazer para as corporações obrigações relacionadas ao cumprimento de leis. O que a gente tem visto é que aquele aprendizado proporcionou a criação de estruturas e sistemas que aram a ser aplicadas em outras matérias nas empresas. O compliance não se restringe a cumprir leis anticorrupção. A gente trata de questões como o assédio moral, sexual, questões comportamentais de relações entre as pessoas e proteção de dados pessoais, que foi uma legislação que surgiu depois. As empresas conseguiram estabelecer formatos para lidar com as diversas regulações que precisavam implementar. Eu vejo as corporações tendo mais o às informações, a CGU, que é a Controladoria-Geral da União, trouxe muita informação sobre a implementação destes programas e hoje existem mais ferramentas para criar estas estruturas em diferentes níveis. >
Ultimamente a programação da Rede Globo tem transmitido peças de publicidade sobre sustentabilidade e a agenda ESG. Qual é a importância de ter a maior rede de TV do país buscando se adequar à agenda de sustentabilidade e levantando a bandeira em sua programação?>
Eu acho fundamental porque poucas empresas têm a capacidade de alcançar o público brasileiro nas mais diversas regiões e classes sociais como a Globo. Então, mais importante do que o que ela faz internamente – a Globo tem um programa ambiental super pioneiro, temos práticas internas como empresa muito importantes –, mas muito maior que isso é a nossa capacidade de levar essas mensagens para as pessoas. Para dar um exemplo bem recente, esta semana teve uma cena na novela em que uma personagem explica porque vai pedir pensão alimentícia ao ex-marido. Em uma hora, foram feitas 270 mil consultas à Defensoria Pública de mulheres querendo informações sobre o assunto. Olha o impacto social, o S do ESG. O próprio trabalho que a Globo fez durante a pandemia, de conscientização. Nosso trabalho de transmitir essas mensagens é nossa maior força de atuação e de transformação social no país. O que aconteceu nos últimos anos é que colocamos tudo isso no formato de um programa ESG, mas sempre foi um valor da empresa. >
Qual é a importância de um evento como o ESG Fórum? >
Fiquei muito honrada com o convite para estar numa região tão importante do Brasil, numa capital como Salvador, dialogando com meios de comunicação tão importantes para a população. É muito bom levar este debate para além do eixo Rio-São Paulo e também conhecer iniciativas muito importantes que estão acontecendo em outros lugares.>
O IV ESG Fórum BAHIA é um projeto realizado pelo Correio, com patrocínio da Acelen, Alba Seguradora, Bracell, Confederação Nacional da Indústria - CNI, Contermas, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, PetroReconcavo, Plano Brasil Saúde, Salvador Bahia Airport, Suzano e Unipar, com apoio institucional do Alô Alô Bahia, Instituto ACM, Saltur e Prefeitura Municipal de Salvador , apoio da Claro, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e AuraBrasil, Sistema Comércio Bahia -Fecomércio, Sesc e Senac- , Salvador Shopping e Sebrae, e parceria do Fera Palace Hotel, Porsche Center Salvador - Grupo Bamaq, Hiperideal, TD Produções, Uranus2, Vini Figueira Gastronomia e Zum Brazil Eventos. >