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Ex-seguidores denunciam guru Alquimista por manipulação, abusos e exploração financeira

Líder de escola esotérica em São Paulo é acusado de criar seita com promessas de autocura

  • Foto do(a) author(a) Carol Neves
  • Carol Neves

Publicado em 6 de junho de 2025 às 09:40

Alcides Melhado, o Alquimista
Alcides Melhado, o Alquimista Crédito: Divulgação

Acusações graves de estelionato, lesão corporal, assédio, abuso de incapaz e charlatanismo recaem sobre Alcides Melhado, 65 anos, conhecido por seus seguidores como “o Alquimista”. Ele comanda a Escola de Alquimia Arte do Equilíbrio, localizada na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, e enfrenta ações judiciais movidas por ex-discípulos e ex-funcionários. As denúncias indicam um sistema de controle emocional, físico e financeiro típico de seitas, segundo especialistas consultados. O caso foi divulgado em reportagem do Uol.

Ex-seguidores relataram à reportagem, em anonimato, que romperam laços familiares e mudaram completamente suas rotinas em nome da devoção ao líder. Uma mulher contou que, após seguir o Alquimista, quase perdeu o pé ao recusar tratamento médico após uma fratura, influenciada por seus ensinamentos contra hospitais e em defesa da autocura. Outra afirmou que Melhado seduziu sua filha, herdeira de um colégio tradicional de São Paulo, e a afastou da família com aparente interesse financeiro. A mãe tenta interditar judicialmente a jovem.

Melhado foi procurado e não comentou as acusações. Ele se apresenta como mestre espiritual e combina em seus cursos referências à Bíblia, mitologia grega e personagens como o mago Merlin. Em vídeos e textos, defende ideias como “ser jovem, ser rico e nunca morrer”. Sua escola oferece cursos, livros, incensos, velas e um kit mensal chamado ArteBox, cuja custa R\$ 1.392 por ano. Áudios trazem o próprio Melhado pressionando os seguidores mais próximos, chamados de “apóstolos”, a adquirirem esses kits.

Entre os processos contra Melhado estão quatro ações trabalhistas. Uma ex-seguidora relata que rompeu com a família, acumulou dívidas e se mudou do Sul para São Paulo para seguir o “professor”. Depois de fraturar o tornozelo, recusou cirurgia e mesmo machucada continuou sendo forçada a carregar peso para despachar produtos da escola. Um laudo psiquiátrico anexado ao processo classifica a vivência como “típica de seita coercitiva”, com abuso psicológico, exploração financeira e poder concentrado em um líder autoritário.

Outro caso emblemático envolve uma pedagoga de 31 anos, atual companheira do Alquimista. Sua família tenta interditá-la, alegando que ela está sob controle psicológico. A mãe afirma que a interdição visa protegê-la e evitar que mais pessoas sejam prejudicadas. Chamada de “princesa” dentro da escola, ela dá aulas de dança espiritual, frequentadas por seguidores que pagam em torno de R$ 170 por ingresso.

Em suas aulas, o Alquimista mistura conceitos como “chama verde”, “transformações de DNA” e “luz líquida”, além de fazer referências a filmes como “Superman” e séries como “Supernatural” e “The Chosen”. Um dos encontros programados pela escola, chamado “encontro de alquimistas”, foi promovido com a ideia de evitar um colapso global durante o Carnaval, com ajuda de anjos e portais místicos.

Ex-seguidores contam que eram proibidos de assistir ao noticiário, ler livros, usar produtos da Apple ou comer determinados alimentos como alho, banana nanica e carne de porco. Ainda assim, Melhado usava referências populares da cultura pop para ilustrar suas falas. Em um áudio aos discípulos, pediu ajuda para arrecadar dinheiro para se defender de processos judiciais: “Não é porque eu sou um alquimista, eu sou o super super, né?”

Durante a pandemia, muitos foram atraídos pelo discurso do Alquimista, que se posicionou contra a vacinação e prometia equilíbrio espiritual por meio da alquimia. Para ele, a prática é “uma química elevadíssima que nenhum cientista jamais descobrirá”, pois, segundo afirma, “o intelecto do cientista é limitado pela razão e lógica”.

Para uma das ex-seguidoras que moveram ação contra Melhado, o impacto ainda é profundo. “Até hoje não tive coragem de voltar para minha cidade. Tenho vergonha. Como eu vou contar que fui parar numa seita?”